TEXTO: Ana Filipe Silveira
Simone de Oliveira reconhece que a sensibilidade de Salvador Sobral é fora do comum, mas alerta para as expectativas muito altas em relação à vitória, esta noite, na final da Eurovisão. “Não me esqueço do que aconteceu com a “Desfolhada””, disse à Notícias TV.
Portugal é o país mais pesquisado no motor de busca da Google, as casas de apostas têm, desde esta sexta-feira, Salvador Sobral como o favorito à vitória e uma sondagem aponta também “Amar pelos dois” como vencedor do Festival Eurovisão da Canção. À Notícias TV, Simone de Oliveira alerta para as expetativas elevadas, independentemente da qualidade da música e do seu intérprete.
“A canção e a prestação do Salvador são boas, mas penso que da maneira como se embandeirou em arco, temos de ter cuidado com as expectativas. Não me esqueço do que aconteceu com a “Desfolhada” [em 1969]. Era apontada como uma das favoritas e não venceu para surpresa de todos”, diz, reforçando o “balde de água fria” que daí pode resultar. “A expectativa que se está a criar é tão grande que depois pode ser um balde de água fria. Eu acho que pode Portugal não ganhar porque há todo um envolvimento político-social e económico à volta da Eurovisão. Há outras coisas além da música. Ficar no top 5 seria muito bom. Ganhar seria ótimo, mas sei por experiência própria o que é criar expectativas altas”.
Simone, que participou na Eurovisão por duas vezes – em 1965 com “Sol de Inverno”, em 1969 com “Desfolhada” – concorda haver “uma diferença abissal” entre Salvador Sobral e os restantes concorrentes. “Ele cantou com uma sensibilidade fora do comum e na sua própria língua. Achei isso muito lindo. A sua postura e a forma de cantar são diferentes dos outros, que apenas trouxeram para a Eurovisão canções festivaleiras”.
Levar ao certame uma canção que puxa ao jazz e à bossa-nova pode ser, para a artista de 79 anos, a fórmula do sucesso para edições futuras. Porquê? Porque se “espera sempre o mesmo e depois aparece uma coisa diferente, que nos deixa de boca aberta”.