Exclusivo. A N-TV pediu a Luís Jardim para “ler” a música de Piçarra: “Isto não é plágio nem aqui nem na China”

Diogo Piçarra já desistiu do Festival da Canção. A RTP disse que compreendia a decisão do cantor. Mas há uma questão que continua por responder: as óbvias semelhanças entre as músicas “Canção do Fim” e “Abre os Meus Olhos” podem mesmo ser consideradas plágio? A N-TV pediu a Luís Jardim para fazer a “escrita musical” das duas canções. O resultado é inequívoco: “Isto não é plágio nem aqui nem na China”.

“O Diogo Piçarra fez mal em desistir. Ao tomar esta decisão, por mais racional que ela tenha sido, ele está a assumir uma coisa que não fez. A canção que ele levou ao Festival não é um plágio” do cântico litúrgico de 1979.

Quem o garante é Luís Jardim, produtor musical, que há 15 anos é jurado de vários “talent shows” da televisão portuguesa e que já trabalhou com vários artistas consagrados como Diana Ross, Celine Dion, Mariah Carey, Elton John, Julio Iglesias e Michael Jackson, entre outros.

Jardim diz que é muito fácil, para quem entende de música (“não é o caso deste júri do Festival, que não percebe nada de música”, diz) perceber se há ou não plágio. “Basta escrever a música em pauta e ver a estrutura. E isso é uma coisa que qualquer músico que tenha estudado faz em 15 minutos. Foi isso que a RTP deveria ter feito logo em vez de deixar o Piçarra a fritar em lume brando durante mais de 24 horas”, afirma o produtor musical.

A pedido da N-TV, Luís Jardim, que recorda ter “o curso de musicólogo tirado nos Estados Unidos”, fez a leitura escrita das duas músicas, a que Diogo Piçarra levou ao Festival da Canção e a cantada pelo pastor Walter. E o seu diagnóstico é simples: não há plágio.

“Em termos de matemática musical, o tema ‘Abre os meus Olhos’ é composto por cinco compassos e na repetição o último compasso tem uma pequena variação do quarto compasso”, começa por explicar.

Luís Jardim afirma que “a melodia do cântico evangélico tem apenas quatro frases, que nunca pode ser comparada com uma melodia com 13 compassos com variantes melódicas, como a do Diogo”.

O jurado de “A Tua Cara Não me é Estranha”, da TVI, diz que “esta foi uma coincidência”, que não é a primeira vez que acontece e que “não será a última”. “Na música só existem oito notas, ou sete para ser mais exato porque a última é uma oitava. Há milhares de músicas com estruturas iguais e que não podem ser consideradas plágio”, acrescenta.

Apesar das semelhanças melódicas, o tema de Diogo Piçarra é “estruturalmente mais desenvolvido”, afirma Jardim, depois da leitura da “escrita musical”. “O início é igual mas depois ele faz uma ponte, sobe uma quarta, modifica o tema e alterou a melodia”.

“Este tema tem 13 compassos com variantes na melodia, no movimento melódico e com muito mais extensão do que o tema que se diz que o Diogo plagiou”, sustenta Luís Jardim.

O produtor e jurado acrescenta que “qualquer músico sabe que não se pode considerar um plágio se for considerada só a harmonia”. Se assim fosse, adianta, “tudo era plágio”.

“Olhe, os rock and rolls todos. O Elvis fartou-se de cantor músicas que têm o mesmo sistema harmónico. O Twelve Bar Blues (Blues de 12 compassos) é o sistema harmónico mais simples e dos mais utilizados. E isso não tem nada que ver com plágios.

“A conjugação da harmonia e da melodia é que contam para que uma música seja considerada plágio”
Luís Jardim

Lamentando que Diogo Piçarra “esteja a pagar por um erro que não cometeu”, e que por isso “não devia ter desistido porque está a assumir uma coisa que não fez”, Luís Jardim aponta o dedo “à facilidade com que um juízo precipitado, a ignorância e a maldade da Internet” podem “injustiçar um artista”.

Por isso, volta a criticar a RTP. “Eles deviam ter sido rápidos a fazer esta análise que eu fiz e concluir que não havia plágio. Assim, deixou-se o artista exposto à crítica fácil na Internet, generalizando-se uma opinião que não é factual”.

TEXTO: Nuno Azinheira

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