Já o viu em programas como “Ora Acerta”, “Ricas Quintas” e “Somos Portugal”. João Montez tem sido uma das grandes apostas no entretenimento da TVI e, depois de um caminho cheio de escolhas mas, sobretudo, repleto de acasos, está finalmente a cumprir o seu sonho. À N-TV, o apresentador falou das suas ambições, das diferenças entre Portugal e os Estados Unidos, onde estudou, e da dificuldade de equilibrar a parte profissional com a sua vida pessoal.
Já percorreu um longo caminho até onde está agora, com muitas reviravoltas: Ciências, representação, rádio… Está finalmente a cumprir o seu sonho?
Sim. Agora começa a ser cumprido. Mas ainda há muito por fazer, muito por caminhar, muito para aprender também… Mas sim, neste momento estou a cumprir aquilo que queria fazer talvez desde sempre e, por isso, é a realização de um sonho.
“Achei sempre que ia seguir um caminho ligado à economia ou gestão, mas não entrar no curso acabou por ser uma resolução de todos os meus problemas.”
Quais foram as escolhas que o trouxeram até aqui?
Foram as minhas escolhas, é verdade, mas foi um conjunto de coisas que foram acontecendo que me permitiram chegar onde estou hoje e às vezes nem percebo muito bem como é que isto aconteceu. Achei sempre que ia seguir um caminho ligado à economia ou gestão, mas não entrar no curso acabou por ser uma resolução de todos os meus problemas. Acabei por ser quase “encostado” à área da comunicação por sugestão de muitas pessoas que achavam que tinha jeito. Depois, no curso, achei sempre que iria trabalhar numa agência de comunicação.
Até que surgiu a oportunidade de ir para rádio.
A rádio despertou-me tudo e mais alguma coisa. A paixão pela comunicação acima de tudo! Mas faltava-me a parte da imagem à oralidade. E é aqui que surge o desejo de fazer cursos de representação e de apresentação. Já fazia, mas nestas áreas a instabilidade é muita e a minha prioridade a nível de vida a longo prazo era sempre a estabilidade. Até que, na altura em que estava a trabalhar na rádio, decidi arriscar. Juntei algum dinheiro e fui para Los Angeles estudar representação.
E quando voltou?
Fui batendo às portas. Depois apareceu-me o casting do “Curto Circuito” [SIC Radical]. Era a terceira vez que ia. Morri na praia, mesmo na fase final. Depois, a TVI ligou-me por causa de um casting que já tinha feito um ano antes do “Curto Circuito”. Por isso, acho que é um conjunto de acasos e escolhas, claro, mas são mais os acasos do que as escolhas.
O que é que sente um ano depois, quando finalmente o chamam?
Primeiro fiquei surpreendido, mas não tinha nada a perder. Disse logo que sim, tanto que para a viagem eles queriam que eu fosse dali a uma semana. E mudar de repente a minha vida toda… Tinha acabado de chegar de Los Angeles no mesmo ano, portanto, passados seis meses, segui para Budapeste [onde decorria a gravação do programa “Ora Acerta”].
“A representação não está posta de lado. Pelo contrário, eu ando sempre a tentar que as coisas sejam conciliáveis.”
E sente que está a abdicar de alguma coisa pela apresentação? Tem pena de ter deixado para trás a representação ou a rádio?
Não, não deixei para trás a representação! A rádio, sim. Eu voltava a fazer rádio, mas é muito mais desafiante para mim ter a imagem associada à voz. A representação não está posta de lado. Pelo contrário, eu ando sempre a tentar que as coisas sejam conciliáveis. Acontece que hoje em dia é quase impossível a nível de tempo e disponibilidade minha e, muitas vezes, de disponibilidade das outras pessoas para perceberem que tenho a vertente da representação. Agora, respondendo à pergunta: a apresentação é a minha escolha principal hoje em dia. Estou muito feliz com ela e acho que muitas coisas podem sair daqui.
Preferia um grande papel na representação ou a apresentação mesmo que fosse num programa pouco importante?
Ui, tinha de ser muito bem falado. Eu não queria abdicar de todo da apresentação. E às vezes essas mudanças repentinas podem causar alguma estranheza no público, portanto isso tinha de ser muito bem ponderado. Não precisava de ser um papel tão grande, mas sim que fosse conciliável. Isto porque existem tantos outros que conseguem conciliar as duas coisas que acabo por às vezes ficar um bocadinho triste por não conseguir fazer o mesmo.
“Adorava ter um programa meu em nome próprio.”
Onde é que gostava que esses acasos o levassem?
Adorava ter um programa meu em nome próprio. Acho que hoje em dia estão cada vez mais a perder-se programas como os do Herman José, que eu tinha como referência quando era miúdo, em que ele se sentava, com um convidado, e estavam ali à conversa 15 minutos. Hoje em dia querem-se entrevistas cada vez mais rápidas, com convidados que pouco ou nada têm para dizer. São conversas de três minutos e se calhar há tanto para contar… Eu percebo esse lado, atenção. Acho só que devia haver algum espaço para esse tipo de programas. E esse seria o meu programa ideal, um “talk show”. Como o Jimmy Fallon tem, como o Jimmy Kimmel e tantos outros. Se continuasse na casa [TVI] acho que poderiam bater ali, mas se vai acontecer ou não… não sei.
Acha que o estilo do Jimmy Fallon não encaixa em Portugal?
O que temos cá de mais parecido com o Jimmy Fallon e o Jimmy Kimmel é o “5 Para a Meia-Noite” [RTP1]. E antes o Herman fazia igual ao que o Jimmy Kimmel faz. Acho que em Portugal é que se perdeu esse tipo de formato, ou se não se perdeu está um bocadinho adormecido. Acho que outra pessoa que se aproxima muito daqui é o [Rui] Unas, com os programas que ele sente vontade de fazer por ele próprio e que neste caso vão para o meio digital em vez de irem para a televisão, uma vez que não há espaço. Acho que as televisões só ganhavam, mas eles lá devem saber que se calhar não ganham assim tanto a nível de interesse.
E o João acha que encaixaria melhor no registo norte-americano?
Eu acho que o meu ambiente é cá… cá e lá, também. Do outro lado fascina-me só o culto que eles têm em relação a estas artes. Cinema aqui não existe, logo por aí é um “turn off” gigante… Podia ter convidados de cinema, estrelas nacionais, e não há Quando o Joaquim de Almeida está cá, vai a todo o lado e mais algum, mas é o único. O estatuto de celebridade, que aqui parece ridículo, lá é uma coisa positiva, são pessoas que trabalham na arte. Mas tenho outras coisas aqui que ninguém me pode tirar! Para já, é um país mais pequenino e por isso este pequeno percurso que eu fiz em quase três anos lá fora ter-me-ia custado, se calhar, uma vida toda! Agora, gostava realmente que as pessoas tivessem algum gosto por estas artes, que não fosse só aquela futilidade de quem é que anda com quem…
Quais são as maiores diferenças que sentiu entre Hollywood e Portugal?
Essa é a primeira: lá respira-se esta arte, aqui não. E outra talvez seja o leque de oportunidades que existem lá e que cá não existem. Lá o leque é suficientemente grande e permite de repente estar na “berra” mas também ter um bocadinho de experiência de tudo. Aqui não há tanto isso, faz-se uma coisa ou outra e pronto, está bom. Aqui eu apresento este tipo de programas e é um bocadinho inconcebível para quem manda pôr-me a fazer novelas, uma vez que eu não tenho tempo. Nos Estados Unidos, era: “ok, então a estes dias que gravas vamos aqui juntar estes e pronto, está feito”. Digo eu…
Se o convidassem para apresentar o “5 Para a Meia-Noite”, aceitava?
Não, porque é num canal que não é o meu! [risos] A TVI teve o “CQC” [2008/2009], que era uma espécie de “5 Para a Meia-Noite” com alguma revolução. Mas acho que a TVI – e não só a TVI, a SIC também – tinha muitas capacidades para ter um programa deste tipo. Não têm porque provavelmente existem outros formatos com menor custo e com muito mais audiência. Agora, o “5 Para a Meia-Noite” para mim hoje em dia também já não é tanto esta referência, também já está a cair um bocadinho nas entrevistas rápidas, muito humor… Tens de ter humor, claro, mas podes ter humor doutra forma. Por isso, se calhar não. [risos]
O Rui Unas e os outros nomes que já mencionou são as suas referências?
Aqui em Portugal, sim. O Rui Unas sobretudo porque está sempre muito atualizado sobre as coisas que hoje em dia fazem valer a pena. O Manuel Luís Goucha é cada vez mais uma referência para mim, porque é um camaleão e adapta-se ao meio em que está sem nunca perder a classe. Eu adorava um dia chegar àquela idade – que não é muita, calma [risos] -, com aqueles anos de experiência e saber estar em todos os contextos. Podia ser uma pessoa que pensasse: “Já conquistei o meu público, está ótimo, agora não mexe mais”. Não, o Manel continua todos os dias a atualizar-se. Portanto o Unas, o Manuel Luís Goucha… Tenho tantos outros! O Júlio Isidro, também, na altura dele… Estas, sim, são as referências.
“Vejo o Manuel Luís Goucha um bocadinho como esse mentor, sim. Eu olho para ele e tento aprender o máximo que posso.”
O Manuel Luís Goucha é seu mentor, aprende muito com ele, ou é uma relação que se vai alimentando mais da amizade?
Não. O Manel diz que em televisão não existem amigos, portanto eu considerá-lo amigo se calhar seria um bocadinho contraditório [risos]. Mas eu vejo o Manel um bocadinho como esse mentor, sim. Eu olho para ele e tento aprender o máximo que posso. E os conselhos que ele e a Cristina [Ferreira] me dão são realmente valorizados por mim. Mas acabamos por ter uma relação próxima de amizade, embora não o sendo. Aprendo bastante com ele e cada vez mais ele consegue surpreender-me com o bom trabalho que faz.
Uma coisa que atrai muito os espectadores é a química que se vê entre o João, a Olívia Ortiz, a Cristina Ferreira e o Manuel Luís Goucha. É uma química que existe realmente ou que é feita para o programa?
Imagine eu agora dizer que sim [risos]. Não, existe realmente essa parte da família na TVI de que hoje em dia se ouve falar. É realmente simpatia que se vê e que em televisão funciona muito bem porque existe para lá dela. Ninguém está ali para ocupar o lugar de ninguém, portanto as ajudas são sempre bem-vindas e acabamos por fazer todos um bom trabalho. Agora realmente aí concordo um bocadinho com o Manuel Luís Goucha… Uma coisa é trabalho, outra é amizade e eu deste meio, se isto um dia acabar, levo duas pessoas para ficarem na minha vida. E acho que já é muito!
Quem é que levaria?
Ui! O Pedro Teixeira e possivelmente a Cristina. São as pessoas com quem eu me ligo mais e com quem estou mais em contacto. Jogo padel com o Pedro Teixeira, vou sair com ele… E a Cristina é uma pessoa muito importante na minha vida e na minha entrada na TVI. Como ela diz: “estamos juntos, para o que der e vier”!
Lembro-me por exemplo do vídeo do Manuel Luís Goucha a meter-se consigo que tem circulado na Internet. Esse nível de empatia e de à-vontade para haver piadas é o que o atrai ou afasta-o?
Atrai, atrai. Às vezes são é mal interpretadas [risos]! Mas atrai, porque isso muitas vezes surge de coisas que estão a acontecer ou já aconteceram quando não estamos no ar. Isso acaba por não ser bem entendido, e dessa vez toda a gente achou as coisas erradas! Eu ia lançar o blogue, toda a gente já sabia, eles tinham acabado de fazer uma entrevista com alguém que falava de blogues, também, e de repente ele diz: “Quem diria que agora és cá dos meus”! Dos meus – dos blogues! E aquilo acabou por ficar ali um bocadinho estranho, porque ninguém sabia que eu ia fazer isso, e estava tudo para lá das câmaras.
Essa espécie de boatos incomoda-o?
Nada, não me incomoda nada, mesmo, antes pelo contrário; desvalorizo, até.
A personalidade que mostra na televisão é a que tem realmente?
Sim, mas acho que existe ali uma linha muito ténue entre tudo o que eu sou e tudo o que eu mostro. Esse é cada vez mais o trabalho que faço hoje em dia. Pôr um bocadinho de mim, da parte extrovertida, em televisão, porque acabo por ter uma postura mais séria, mas é opção minha, para já. O meu trabalho ali sou eu, disso não há dúvida alguma; mas cabe-me a mim delinear bem até que ponto é que eu vou.
Como é que lida com os dias de mau humor?
É uma coisa que não pode existir… Pode existir quando não estou em frente à câmara. Quando estou… terminou. Quem me conhece mesmo e trabalha comigo todos os dias acaba por perceber que alguma coisa não está bem; mas isto é válido para mim e para todos os profissionais da área.
“Não escondo que a minha prioridade é a profissão. Não tenho deixado de lado a parte pessoal, mas tem sido assim uma coisa em segundo plano.”
Falava da pouca disponibilidade que tem. Como é que gere isso em relação à vida pessoal? Como é que faz esse equilíbrio?
Não escondo que a minha prioridade é a profissão. Não tenho deixado de lado a parte pessoal, mas tem sido assim uma coisa em segundo plano. É uma gestão que é feita por mim e é uma opção minha. Mas é uma coisa difícil fazer esse equilíbrio. De qualquer forma, eu para já nem sequer quero ter [risos]. No “Somos Portugal” temos muitas vezes fins de semana fora, e sendo o projeto que hoje em dia faço mais frequentemente, às vezes é complicado a nível pessoal.
Está sozinho, neste momento?
Estou meio-meio… Estou a passar uma boa fase [risos]. Estou bem.
Mas olhe que pretendentes não lhe faltam. Basta andar pelo seu Instagram e ler os comentários. Sente muitas vezes esse assédio?
Digital? Sim.
E sem ser digital?
Não, sem ser digital não, é mais o carinho. Sobretudo no Norte. Lá existe muito esse carinho e talvez seja um pouco mais perto do assédio [risos], mas é uma coisa boa. As pessoas lá são têm à-vontade e não têm papas na língua. Eu gosto disso. Aqui é mais os olhares e alguns comentários, mas é muito carinho.
“Eu prefiro que me abordem, não é de todo incomodativo nem espero que o seja algum dia.”
Mas gosta quando vão ter consigo ou torna-se incomodativo?
Gosto! Claro que há fases e fases. Se eu antes saía do ginásio, todo suado do treino, e a seguir passava por qualquer sítio para ir buscar comida e ia para casa, hoje em dia se calhar já tenho a preocupação de não o fazer e vou tomar um banho antes [risos]. Existe essa parte que, se estou apertado de tempo, acaba por ser uma coisa incomodativa. Mas lido bem com isso. Eu prefiro que me abordem, não é de todo incomodativo nem espero que o seja algum dia. Também essa privacidade somos nós que a traçamos, esse limite, e eu tenho o meu bem definido.
Há mais coisas de que tem de abdicar?
Só mesmo essa, porque é uma coisa que eu fazia mesmo! Eu muitas vezes fazia coisas dessas, não estava preocupado sequer com como é que estava, e hoje em dia há uma imagem e uma expectativa a cumprir que eu não gosto de falhar.
E a parte digital?
A parte digital é muito pior [risos]! São as mensagens e os conteúdos indiscretos… Mas consigo gerir isso bem.
TEXTO: Inês Rebelo