José Castelo Branco: “Outra pessoa no meu lugar teria acabado no suicídio”

Ricardo Júnior/Global Imagens

Desde que surgiu na televisão portuguesa, no programa da TVI “Rosa Choque”, a imagem de José Castelo Branco é permanentemente associada à androginia. O “marchand d’art” não coloca de parte a mudança de sexo e assume que foi “das piores vítimas que se pode imaginar de discriminação nos colégios”.

Catorze anos depois de se apresentar publicamente aos portugueses, a diferença continua a ser a palavra de ordem assim que se fala no seu nome. E José Castelo Branco não se importa com isso, agora que as memórias de uma adolescência difícil estão finalmente estancadas. Afinal, ser-se “completamente diferente” não era fácil de se aceitar dentro de uma comunidade de adolescentes.

“Não foi nada fácil […] [mas] foi isso que me deu a força e a segurança que tenho hoje. […] Sou um sobrevivente, outra pessoa no meu lugar teria acabado no suicídio naturalmente. Era tudo contra mim, uma coisa horrível, uma luta permanente”, revelou José Castelo Branco, numa entrevista ao site Notícias ao Minuto.

“A primeira vez que pus um fato de homem senti-me a coisa mais infeliz do mundo.”

Foi desde muito cedo, logo na adolescência, que o “Conde”, como ficou conhecido em Portugal, sentiu uma grande identificação com o sexo feminino. Algo que se denota na sua aparência, mas que não indica uma vontade de Castelo Branco querer passar por um processo de mudança de sexo.

“Quando um dia decidir ser mulher, serei mulher na totalidade. Enquanto não decidir ser mulher continuarei a ser o José que sempre fui. Sou aceite assim, dou-me com toda a gente. Isso não me faz confusão…”, garante. E reforça a ideia, colocando um ponto assente de que esta ligação pelo outro género não signifique necessariamente uma associação à homossexualidade: “Eu estou muitíssimo bem, a minha sexualidade está bem resolvida. E isso não tem a ver com o meu exterior, sinto-me bem a sair como mulher à rua e a não ser apontado como um travesti, uma ‘bicha’, como qualquer coisa… passo como uma senhora, porque é a atitude que tenho.”

“O divórcio foi uma coisa muito dolorosa, porque estava verdadeiramente apaixonado.”

Prova disso são as duas relações que se conhecem a José Castelo Branco: um primeiro casamento com Maria Arlene e o atual matrimónio com Betty Grafstein. Na mesma conversa, relembra o momento, de incerteza, em que deu o nó com a mãe do seu filho, Guilherme.

“Sou católico praticante e, na altura [do casamento], foi uma coisa complicada na minha vida. Achava que ia continuar a ser uma mulher… e aí apaixono-me por uma mulher. A minha cabeça ficou completamente confusa, mas entretanto os padres nas confissões ajudaram-me a seguir um caminho e casei-me. Foi aí que comecei a ter um reverso nessa transformação”, admite.

O casamento, depois de uma segunda tentativa, chegou ao fim decorria a década de 1990. Mais um embate que não esperava. “[A separação] Foi o pior choque que tive na minha vida. Mas hoje, quando olho para trás, digo que não podia estar com ela depois de ter descoberto uma Betty na minha vida. Não ‘choro sobre o leite derramado’”, assegura.

José Castelo Branco está, desde aí, casado com a “designer” de joias Betty Grafstein. A oficialização da relação, numa cerimónia pelo civil, aconteceu em 1996. Atualmente, o casal vive em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde o “marchand d’art” diz estar a estudar representação. Há mais de dois anos que não visita Portugal, onde o espera o cumprimento de uma sentença.

 

TEXTO: Dúlio Silva

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.