“As pessoas não olham para as estrelas”. As confissões de Vintém no regresso aos palcos. Leia a entrevista

Paulo Vintém está de regresso aos palcos, com a peça “O Principezinho”, em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa, até 29 de abril. À N-TV, o ator partilhou a sua experiência neste musical, falou das probabilidades de Portugal vencer a Eurovisão e confessou quais são os problemas da humanidade que mais o afetam. Pelo meio, revelou um possível regresso à música, ainda este ano, e recordou o amigo Angélico, falecido em 2011 num acidente de automóvel, como uma “referência” para toda a vida.

Como é que está a sentir este seu regresso aos palcos?

É algo de que gosto muito porque para já é palco, é “live”, é teatro. É diferente de fazer televisão ou qualquer outro tipo de ficção. Confesso que já tinha muitas saudades e foi na altura certa que apareceu o convite. Foi o próprio [encenador] Pedro Penim que me contactou e me explicou o projeto. E eu vi logo, pela mensagem de “O Principezinho”, que iria ser uma excelente peça.

É um tipo de peça que o inspira?

Sim, e cativou-me desde logo, porque o Principezinho é um sonhador, é um adulto que nunca deixou de ser criança e que está ali a contar uma história que lhe aconteceu há muitos anos. Além disso, o musical está muito fiel ao livro. As reações do público têm sido muito positivas e isso é o mais importante, sabermos que tocamos as pessoas.

Da forma como está feita, qual é o público-alvo?

Acho que este é um livro para crianças escrito para adultos e o musical também, porque a maior parte das crianças não é capaz de decifrar a mensagem que está presente tanto no livro como no musical. E os adultos conseguem. Por isso, é estranho este livro ser intitulado para crianças porque é nos adultos que nós sentimos a reação àquilo que acabamos de dizer e de transmitir.

“As pessoas não olham para as estrelas, não veem o que está a acontecer ao lado delas porque só estão habituadas a olhar em frente”

E qual é a mensagem que esta história transmite?

É um abre olhos a todo o excesso de informação que temos e ao que fazemos hoje em dia. Por vezes, as pessoas esquecem-se das coisas mais simples. Preocupam-se com o trabalho, com as horas, com a rotina. E não olham para as estrelas, não veem o que está a acontecer ao lado delas porque só estão habituadas a olhar em frente. É um livro muito bonito e é para ser lido em várias fases da vida.

Ainda se sente nervoso quando entra em palco e vê uma casa cheia de público?

Sempre. Tivemos dois meses para preparar tudo isto. Tenho aprendido muito com este projeto e com todos os outros atores que estão comigo. É fantástico como estamos todos em sintonia.

Que análise faz ao atual panorama artístico nacional?

Está muito mais positivo. Há muita qualidade, a todos os níveis, e as portas foram-se abrindo mais para o mercado nacional. Estamos numa boa fase, tanto a nível de música, apesar de hoje em dia ser tudo muito mais digital, e não tão físico, como a nível de teatro. Só tenho pena de as pessoas ainda não terem adquirido o hábito de irem ao teatro. Felizmente, no “Principezinho”, temos tido lotações esgotadas.

Já tivemos um Paulo Vintém dedicado à música, à dança… E agora, só representação ou também a outros projetos?

Costumo fazer muitas coisas ao mesmo tempo e só assim é que me sinto realizado. Neste momento, estou com o musical, tenho a minha produtora, e aí sim, tenho a minha outra vertente da realização.

“Dança agora é só para curtir. Quanto à música, tenho estado de volta dela, na parte da composição e da escrita”

Já se afastou há algum tempo da música e da dança…

Dança agora é só para curtir. Quanto à música, tenho estado de volta dela, na parte da composição e da escrita. Ando sempre a adiar, mas é uma coisa que quero fazer ainda este ano.

“Acho que já é demasiado bom termos aqui o espetáculo [da Eurovisão]”

Aproveitando a sua experiência a nível musical, temos a Eurovisão aí à porta. Quais as expectativas?

No ano passado foi maravilhoso. Uma grande música. Um marco histórico para nós. Este ano, acho difícil, acho que já é demasiado bom termos aqui o espetáculo.

O que tinha o Salvador Sobral [vencedor em 2017 com “Amar pelos Dois”] que a Cláudia Pascoal [a representante deste ano] não tem?

O Salvador é único. E há coisas que só acontecem uma vez na vida. Este ano, tínhamos uma música muito boa, a do [Diogo] Piçarra…

Que opinião tem sobre as acusações de plágio de que o Diogo Piçarra foi alvo?

Estou do lado dele. Ele nunca faria uma coisa dessas. Não tenho dúvidas. Nas músicas simples, isso pode acontecer. As pessoas gostam de polémica, preocupam-se muito com o que não é necessário. É a mensagem do “Principezinho”.

“Não sou consumidor. Não era antes do Salvador, e continuo a não ser depois do Salvador. Não vou ver o Festival”

Há pouco tempo, Rui Veloso considerou o Festival uma “pimbalhada”. O que acha disso?

A música do Salvador deu-nos muito crédito e levou o Festival a outros públicos. Deixou de ser só música ligeira. Mas eu não sou consumidor. Não era antes do Salvador, e continuo a não ser depois do Salvador. Não vou ver o Festival.

“O Angélico é uma referência. Para sempre”

Não falar dos DZRT é quase impossível. Nunca pensaram em regressar?

Não faz sentido porque não estamos todos. Deixou logo de fazer sentido. E as coisas são como são e são para ser sentidas da forma mais natural possível. Foi assim que sentimos tudo e não fazia sentido estar a continuar uma coisa que não estava completa. Basicamente, foi por causa disso. Se estivéssemos todos, continuaríamos a fazer música juntos para sempre.

O que representam para si estes últimos sete anos sem o Angélico Vieira? São sete anos de vazio ou sete anos de coração cheio por tudo aquilo que passaram juntos?

É mais isso. O primeiro ano foi mais complicado, foi mais de vazio. Mas depois as coisas ficam mais compostas, e sim, vivemos tanta coisa e fizemos tantas coisas maravilhosas que ainda continuo a ver e a partilhar…

É uma referência para si?

Sim, claro, para sempre.

“Tudo o que acontece, seja bom ou mau, vai fazendo parte da nossa história e vamos crescendo com isso”

Tinha 25 anos quando iniciou a carreira nos DZRT. Completa 39 este mês. Sente que está numa nova fase da sua vida?

Estou mais adulto. Cresci muito nestes últimos anos. Tudo o que acontece, seja bom ou mau, vai fazendo parte da nossa história e vamos crescendo com isso. Hoje, sou uma pessoa completamente diferente e estes últimos anos têm sido importantes para traçar prioridades.

Quais são?

Tento compreender a sociedade e tudo aquilo que me rodeia. A maior parte das pessoas são dogmáticas. Tomam como verdadeiro tudo o que ouvem e veem. Não pensam por elas próprias. Muitas vezes, parecemos cordeirinhos, peças de um jogo que está programado para funcionar assim e funciona assim. Há muitas coisas que não fazem sentido. Se pensarmos a nível global, de preservarmos o que é nosso, andamos a fazer tudo ao contrário. As minhas preocupações passam por aí. O que estamos a fazer e para onde estamos a caminhar. Acho que devemos parar e pensar o que estamos a fazer aos animais, à natureza, ao consumo excessivo.

“Aquecimento global, extinção das espécies. Inteligência artificial, que não sei para que precisamos dela”

Se pudesse mudar alguma coisa, o que mudava?

Tanta coisa. Tenho lido muitos documentários sobre o que andamos a fazer e o que vai acontecer daqui para a frente. Aquecimento global, extinção das espécies. Inteligência artificial, que não sei para que precisamos dela. Também a nível do consumo alimentar…

É vegetariano?

Não sou, ainda não consegui, mas estou a caminhar para isso. Todos os meus ideais apontam nesse sentido.

O teatro tem essa capacidade de transmitir uma mensagem. Já lhe passou pela cabeça utilizar o teatro para transmitir aquilo que sente sobre os problemas existentes na humanidade?

Já pensei em fazer alguma coisa, não no teatro, mas a nível de conteúdos de vídeo, através da minha produtora. Mas com um reparo, que é o de dizer que é isto que eu penso. Sim, é um projeto que está na gaveta.

TEXTO: Duarte Lago

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