Uma Thurman quebra o silêncio sobre Harvey Weinstein. “Ele tentou deitar-se sobre mim”

Uma Thurman já tinha dito em novembro passado que contaria o episódio que passou com Harvey Weinstein, acusado de assédio sexual por centenas de mulheres, quando “estivesse preparada”. Fê-lo agora em entrevista ao “The New York Times”, jornal que trouxe a público os primeiros relatos contra o produtor norte-americano.

Depois do silêncio a que optou remeter-se até se “sentir menos zangada”, Uma Thurman relatou agora detalhes do momento em que o produtor norte-americano Harvey Weinstein a assediou sexualmente. O caso terá ocorrido após o sucesso de “Pulp Fiction”, filme de 1994 que a atriz protagonizou e Weinstein coproduziu.

Terá sido durante uma reunião no quarto de hotel de Harvey em Paris, França, onde estavam presentes mais pessoas. “Estavam a discutir sobre um guião quando ele tirou o robe. Não me senti ameaçada. Pensei que ele estava a ser bastante idiossincrático, como um tio excêntrico e estranho”, começa por recordar.

Tudo mudou no momento em que Weinstein, de 65 anos, pediu à atriz para o seguir, levando-a até à sauna. “Eu estava ali, vestida de ganga preta – botas, calças, casaco. Estava mesmo calor”, adianta Thurman, que na altura disse ao produtor que aquela situação era “ridícula”. “Ele ficou irritado comigo e saiu a correr”, lembra.

“Harvey atacou-me [sexualmente], mas isso não me matou. Quando somos meninas, somos condicionadas a acreditar que a crueldade e o amor têm de alguma maneira uma ligação e essa é a era [a partir] da qual temos de evoluir”
Uma Thurman

Quase dez anos depois, por altura do primeiro filme da saga “Kill Bill”, também interpretado pela atriz e pelo agora o ex-patrão da Miramax e da Weinstein Company, este terá voltado a ter comportamentos impróprios, dessa vez com maior gravidade. “Ele prendeu-me. Tentou deitar-se sobre mim. Tentou mostrar-se nu. Fez todo o tipo de coisas desagradáveis”, contou.

Thurman lamenta ainda o seu silêncio, dizendo ser “uma das razões pelas quais uma jovem rapariga entraria sozinha no quarto dele” e culpando-se por “todas as mulheres que foram atacadas depois” de si. Justifica-se, frisando não ter sabido lidar com o “sentimento complicado” que nutre por Weinstein.

O produtor está debaixo de investigação policial por abusos sexuais nos Estados Unidos e em Inglaterra. E, apesar de ter negado todas as acusações que até agora lhe foram feitas, aceitou fazer terapia numa clínica no Arizona.

Ao jornal nova-iorquino, relatou ainda que, quando tinha 16 anos, um ator “20 mais anos mais velho” a forçou a ter relações sexuais, “Tentei dizer não, chorei, fiz tudo o que podia”.

O acidente que lhe deixou lesões irreversíveis

Na edição deste sábado do “The New York Times”, e em conversa com a jornalista Maureen Dowd, a atriz, de 47 anos, acusa ainda Quentin Tarantino, realizador daqueles dois filmes, de não a ter protegido durante as filmagens de “Kill Bill” no México. Não devido aos avanços de Harvey Weinstein – o cineasta até terá confrontado o produtor sobre o seu comportamento -, mas por a ter colocado em perigo ao obrigá-la a conduzir um automóvel que não estava em condições.

A atriz acabaria por ter um acidente, ficando encarcerada. “O volante estava na minha barriga e as minhas pernas ficaram presas debaixo de mim”, admite, acrescentando que desse desastre ficou com lesões irreversíveis no pescoço e nos joelhos. “Tive uma discussão enorme com o Quentin e acusei-o de me tentar matar”, confessa.

Mais tarde, o realizador acabaria por se mostrar arrependido e por pedir desculpa ao ator Ethan Hawke pelo que fez à então sua mulher.

TEXTO: Ana Filipe Silveira

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